Em um ambiente macroeconômico marcado por incertezas, o CEO da Taesa, Rinaldo Pecchio Jr, destaca que as condições atuais pressionam o setor elétrico, afetando a captação de recursos e a participação em leilões. Com juros mais altos, as empresas do segmento têm menos margem para serem agressivas nas disputas.
Juros altos limitam capacidade de deságio em leilões
A Selic elevada impacta diretamente o financiamento, reduzindo nossa capacidade de oferecer deságios mais competitivos nos leilões. Em um cenário mais estável, poderíamos projetar melhor o futuro, mas com o custo de capital alto, fica difícil repassar isso nas condições do leilão”, explicou Pecchio em entrevista à Istoé Dinheiro.
O executivo também destacou que as captações estão ocorrendo em prazos mais curtos, reflexo da dificuldade em prever os rumos da economia brasileira.
Mercado financeiro reflete incertezas nas taxas e prazos
As condições de captação espelham o sentimento do mercado em relação aos juros e prazos. Este é um ano desafiador, com debates sobre qual índice usar e quando captar. A preocupação é não perder oportunidades de melhores condições no futuro”, afirmou.
Taesa mira próximo leilão com otimismo, mas espera concorrência acirrada
Apesar do cenário adverso, a Taesa confirmou participação no único leilão de transmissão deste ano. A empresa analisa os lotes em busca de sinergia com suas operações existentes.
Esperamos uma grande concorrência, mas estamos preparados. Queremos lotes que se encaixem bem em nosso portfólio para garantir bons retornos aos acionistas”, disse Pecchio.
Atualmente, a alavancagem da companhia está em 4,1 vezes o Ebitda, mas o CEO não vê isso como um obstáculo. Ele projetou uma “desalavancagem contratada” até 2026, com aumento da Receita Anual Permitida (RAP) em R$ 400 milhões, reduzindo o índice para entre 3,5x e 4x.
Leilões são alternativas de crescimento, mesmo em cenário difícil
Ainda que as condições sejam complexas, vemos boas oportunidades e estamos animados com o próximo leilão”, afirmou.
Dividendos e crescimento devem caminhar juntos
Questionado sobre um possível retorno do dividend yield acima de 10%, Pecchio reforçou o compromisso da Taesa em equilibrar remuneração aos acionistas e expansão.
Nosso foco é operar com eficiência, inovar e conciliar crescimento com dividendos. Somos uma boa pagadora e queremos continuar assim, maximizando os pagamentos dentro das nossas condições financeiras”, concluiu.
Opinião: Cenário Desafiador Exige Estratégia Cautelosa, mas Taesa Mostra Resiliência
O atual ambiente macroeconômico, com juros elevados e incertezas sobre o futuro fiscal e regulatório do Brasil, de fato impõe desafios significativos para o setor de transmissão de energia. A análise do CEO da Taesa, Rinaldo Pecchio Jr., reflete uma realidade que muitas empresas enfrentam: a dificuldade de planejar investimentos de longo prazo em um cenário de custos financeiros voláteis e prazos de captação encurtados.
No entanto, a postura da Taesa demonstra resiliência e capacidade de adaptação. A empresa reconhece os obstáculos, mas não se abstém de buscar oportunidades, como a participação no próximo leilão. A estratégia de priorizar lotes com sinergia às operações existentes e a expectativa de uma “desalavancagem natural” até 2026 indicam um planejamento cuidadoso, que busca equilibrar crescimento e saúde financeira.
Um ponto positivo é o compromisso da companhia em manter uma política de dividendos atrativa, mesmo em um momento de maior cautela. Isso sinaliza confiança na geração de caixa futura e no modelo de negócios regulado, que oferece certa previsibilidade de receita.
Por outro lado, a alta concorrência esperada no leilão pode pressionar ainda mais as margens, especialmente se outras players também estiverem dispostas a assumir riscos em busca de escala. O grande teste será conseguir conciliar preços competitivos com retornos adequados em um mercado onde o custo do capital permanece elevado.
No longo prazo, a capacidade da Taesa de navegar por esse ambiente instável dependerá não apenas de condições macroeconômicas mais favoráveis, mas também de sua eficiência operacional e disciplina na alocação de capital. Se conseguir manter esse equilíbrio, a empresa pode emergir ainda mais fortalecida quando o ciclo de juros altos começar a se reverter.