Uma nova preocupação ambiental
Com o avanço acelerado da inteligência artificial (IA), a construção de grandes data centers tem se intensificado, mas um relatório recente da Accenture aponta para um problema preocupante: o impacto ambiental dessas infraestruturas. Prevê-se que, até 2030, as emissões de carbono geradas por esses centros podem aumentar 11 vezes, alcançando níveis alarmantes.
Consumo de energia em alta
De acordo com o estudo, os data centers de IA podem consumir até 612 terawatts-hora de eletricidade nos próximos cinco anos, um volume comparável ao consumo anual de energia de um país como o Canadá. Esse aumento na demanda energética deve contribuir para um crescimento de 3,4% nas emissões globais de carbono, colocando pressão adicional sobre as metas de sustentabilidade globais.
Demanda por água
Além da energia, o consumo de água é outra questão crítica. Os data centers de IA, que dependem de sistemas de resfriamento intensivos, podem demandar mais de 3 bilhões de metros cúbicos de água doce anualmente. Esse volume supera o uso anual de países como Noruega e Suécia, agravando a escassez de recursos hídricos em diversas regiões.
A corrida pela liderança em IA
A expansão desenfreada dos data centers está diretamente ligada à competição global pela liderança em IA, especialmente entre os Estados Unidos e a China. Grandes empresas como OpenAI e Meta estão investindo bilhões em novas infraestruturas. A OpenAI, por exemplo, planeja gastar US$ 500 bilhões em quatro anos como parte do projeto Stargate, enquanto a Meta busca levantar US$ 29 bilhões para construir centros de IA nos EUA.
Mark Zuckerberg, CEO da Meta, destacou a urgência de acelerar a construção de data centers para manter a competitividade americana. Ele alertou que, sem investimentos rápidos, os EUA correm o risco de perder a liderança na área para a China, que tem ampliado sua capacidade de forma agressiva.
Perspectivas do governo americano
O governo dos EUA também parece priorizar a expansão da infraestrutura de IA. David Sacks, czar de IA e criptomoedas da Casa Branca, defendeu a necessidade de agilizar licenças e aumentar a geração de energia para suportar os data centers. Em declarações recentes, ele criticou a lentidão de processos regulatórios, sugerindo que a sustentabilidade pode estar em segundo plano diante da urgência estratégica.
Propostas para mitigar o impacto
O relatório da Accenture, intitulado *Powering Sustainable AI*, propõe medidas para equilibrar o crescimento da IA com a responsabilidade ambiental. Entre as recomendações estão a adoção de fontes de energia de baixo carbono, inovações em sistemas de resfriamento e o uso de modelos de IA mais eficientes. A empresa também introduziu o Sustainable AI Quotient (SAIQ), uma métrica para avaliar o custo ambiental da IA, considerando energia, emissões de CO₂ e consumo de água.
Matthew Robinson, coautor do relatório, expressou preocupação com as projeções, mas destacou que a meta é incentivar ações que evitem esses cenários. Ele sugere que as empresas precisam investir em eficiência energética e governança de sustentabilidade para reduzir o impacto dos data centers.
Exemplo do Google
Algumas empresas já estão tomando medidas para mitigar seus impactos. O Google, por exemplo, relatou em seu relatório de sustentabilidade de 2024 que consumiu 32,1 milhões de megawatts-hora de eletricidade, sendo 95,8% destinados aos seus data centers. Apesar do aumento no consumo, a empresa reduziu as emissões em 12% no último ano, graças a projetos de energia limpa e melhorias na eficiência energética.
A eficiência no uso de energia (PUE) do Google atingiu 1,09 em 2024, próxima do mínimo teórico, indicando avanços significativos. A empresa também aumentou em seis vezes a capacidade de computação por unidade de energia nos últimos cinco anos, mostrando que é possível combinar crescimento com práticas mais sustentáveis.
Desafios e perspectivas
Apesar dos esforços de empresas como o Google, a escala da expansão dos data centers de IA representa um desafio monumental. A pressão para manter a liderança tecnológica pode dificultar a adoção de práticas sustentáveis, especialmente entre startups e empresas menores. Ainda assim, especialistas como Robinson mantêm um otimismo cauteloso, acreditando que a inovação pode ajudar a equilibrar crescimento e responsabilidade ambiental.