Paulo Amador Cunha Bueno, advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro, apresentou esclarecimentos ao Supremo Tribunal Federal (STF) em meio a uma investigação sobre suposta tentativa de interferência na delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. O caso, que ganhou destaque na última semana, envolve também outros ex-assessores de Bolsonaro e está sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.
Contexto da Investigação
A investigação apura se houve tentativas de influenciar a colaboração premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Bueno, que depôs na Polícia Federal (PF) nesta terça-feira, 1º de julho de 2025, negou qualquer conduta antiética. “Não busquei informações sobre a delação de Cid nem ultrapassei limites éticos”, afirmou em petição ao STF.
Encontro com a Família de Cid
Segundo Agnes Barbosa Cid, mãe de Mauro Cid, Bueno e outro advogado, Eduardo Kuntz, a abordaram durante uma competição de hipismo em São Paulo, em agosto de 2023. Agnes relatou ter ficado “tensa” com a abordagem, mas afirmou que não houve perguntas diretas sobre a delação, apenas uma oferta para defender Cid.
Bueno, por sua vez, confirmou o encontro, mas o classificou como “breve, amistoso e protocolar”. Ele alegou que Agnes o procurou para agradecer pela ajuda na inscrição de sua neta no torneio. “Foi um momento casual, sem qualquer discussão sobre a delação”, declarou, conforme publicado pelo jornal O Globo.
Outros Investigados
Além de Bueno, o inquérito envolve Fabio Wajngarten, ex-assessor de Bolsonaro, e Marcelo Câmara, também ex-assessor. Ambos são suspeitos de contatos com a família de Cid, mas negam qualquer intenção de interferência. Wajngarten, em depoimento na PF, afirmou que seu envolvimento limitou-se a facilitar a inscrição no torneio de hipismo.
“As acusações carecem de provas concretas. Até agora, os depoimentos apontam para contatos casuais, não para tentativas de obstrução”, avalia o advogado criminalista Roberto Lima.
Resposta no STF
Em petição entregue ao STF na segunda-feira, 30 de junho, Bueno reforçou que o encontro com Agnes Cid foi ocasional e que não houve qualquer tentativa de influenciar a delação. Ele também destacou que sua atuação como advogado de Bolsonaro segue padrões éticos rigorosos.
O caso ganhou contornos políticos, com críticas de Wajngarten ao ministro Alexandre de Moraes, acusado de “criminalizar a advocacia”. A tensão entre a defesa de Bolsonaro e o STF reflete o clima polarizado das investigações em curso.
Próximos Passos
A PF continua a investigar as alegações, mas os depoimentos de Bueno e Wajngarten sugerem que os contatos com a família de Cid foram circunstanciais. O STF, sob a relatoria de Moraes, deve analisar os depoimentos para determinar se há indícios de obstrução de justiça.
“O caso exige cautela, pois as acusações podem ter impacto significativo no cenário político”, observa a cientista política Clara Almeida. Enquanto isso, a defesa de Bolsonaro segue negando qualquer irregularidade, reforçando que os contatos foram motivados por questões pessoais, não por interesses investigativos.