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Aumento Alarmante do Antissemitismo no Brasil: Análise das Causas e Consequências

por Juliana Veltri
Aumento Alarmante do Antissemitismo no Brasil

O Brasil tem testemunhado um crescimento preocupante nos atos de antissemitismo, especialmente após os eventos de 7 de outubro de 2023 em Israel. Relatórios indicam um aumento significativo no ódio contra judeus, impulsionado por diversas frentes, incluindo manifestações políticas e a disseminação de mensagens de ódio nas redes sociais e em ambientes acadêmicos. Este cenário levanta sérias questões sobre a liberdade de expressão, a segurança das comunidades judaicas e o papel de figuras públicas na moderação do discurso.

A Escalada do Ódio: Dados e Relatos Preocupantes

Desde o ataque terrorista do Hamas em Israel, que resultou na morte de aproximadamente 1250 pessoas e no sequestro de outras 250, o antissemitismo no Brasil registrou um aumento alarmante. Segundo dados da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp) e da Confederação Israelita do Brasil (Conib), o primeiro mês após o conflito viu um crescimento de mais de 1000% nos atos antissemitas em comparação com o mesmo período do ano anterior. Em 2023, o número anual de denúncias atingiu um recorde de 1.788 registros, representando um aumento de 350% em relação a 2022.

Relatos de vítimas ilustram a gravidade da situação. Um jovem judeu, identificado como João, de 23 anos, descreveu um incidente na Avenida Paulista em novembro de 2024, onde foi hostilizado por manifestantes pró-Palestina. “As pessoas gritavam em árabe e apontavam o dedo na nossa direção”, disse João, que presenciou seu amigo ser agredido ao tentar intervir. Esse tipo de ocorrência demonstra como o discurso de ódio se materializa em atos de violência e intimidação no cotidiano.

Daniela Russowsky Raad, presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul (FIRS), alertou para uma “perigosa escalada antissemita”. Ela citou um protesto em frente à FIRS em junho, onde cartazes exaltavam terroristas do Hamas e manifestantes gritavam o slogan “do rio ao mar, Palestina livre já”, que, segundo ela, implica a destruição de Israel. A negação da existência do Estado de Israel, para a comunidade judaica, é uma forma de negar o direito à autodeterminação do povo judeu. Outra manifestação, na semana seguinte, também exibiu bandeiras do Hamas e do Hezbollah, glorificando uma “resistência” que prega o terrorismo e o extermínio de judeus. “Nossos avós, que vieram ao Brasil em busca de paz, fugindo das perseguições na Europa, se arrepiam ao ver esses registros”, lamentou Daniela.

O Papel de Influenciadores e Políticos na Disseminação do Ódio

O rabino Gilberto Ventura, fundador do movimento Sinagoga Sem Fronteiras (SSF), que atende todo o país, argumenta que o antissemitismo não é inerente à cultura brasileira. Ele atribui o aumento dos casos à disseminação de mensagens de ódio por influenciadores digitais e figuras políticas. Ventura mencionou a comparação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre a ofensiva israelense em Gaza e o Holocausto, uma declaração que gerou forte repúdio da comunidade judaica.

Outros exemplos citados incluem a defesa de boicote a empresas de judeus por José Genoino, ex-presidente do PT, e a postagem de Sayid Tenório, vice-presidente do Instituto Brasil-Palestina, que fez um comentário desrespeitoso sobre uma mulher levada como refém pelo Hamas. Esses episódios evidenciam como a retórica de ódio, vinda de figuras com alguma projeção pública, pode legitimar e amplificar o antissemitismo na sociedade.

Antissemitismo no Ambiente Universitário: Um Alerta

A disseminação de mensagens de ódio tem se manifestado de forma preocupante em universidades brasileiras, resultando em ataques e assédio moral contra jovens judeus. O rabino Ventura relata que estudantes o procuram com frequência, descrevendo situações de intimidação por colegas que se autodenominam “defensores dos palestinos”. O estudante de Direito João, por exemplo, sofre intimidação constante de um colega que o chama de “genocida de crianças palestinas” e faz piadas antissemitas, chegando a afirmar que “famílias ricas judias deveriam ser alvos de uma AK-47”. O mesmo aluno, segundo João, apresentou um trabalho usando uma camiseta com símbolo de grupo terrorista e pertence a um grupo universitário que publica posts antissemitas com estereótipos nazistas.

A falta de reação de professores e diretorias universitárias diante desses incidentes é um fator agravante, pois permite a normalização e difusão dessas ideias entre os jovens. Eventos como a comemoração dos ataques de 7 de outubro de 2023 na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), que contou com a presença de membros do MST e partidos políticos, e a venda de camisetas do Hezbollah e broches do Hamas nas dependências da instituição, demonstram a gravidade da situação. Em novembro de 2024, ativistas interromperam uma palestra na Universidade Federal do Ceará (UFC) com bandeiras da Palestina e uma placa com a foto de um líder do Hamas.

A Incoerência do Discurso de Ódio e a Necessidade de Ação

O historiador Vicente Dobroruka, professor da Universidade de Brasília (UnB), aponta a incoerência de grupos que propagam discursos de ódio contra Israel. Segundo ele, a ideia antissemita e anti-Israel é “muito mais opressora do que qualquer coisa que o capitalismo ocidental já tenha imaginado”, configurando uma “confusão total de valores”. Dobroruka alerta que a disseminação de ódio nas universidades é “orquestrada e perigosa” e que o Estado não pode tolerar sua continuidade. Ele ressalta que, se fossem manifestações contra grupos de esquerda, as providências seriam tomadas imediatamente, evidenciando uma possível seletividade na resposta a esses atos.

A situação atual exige uma reflexão profunda sobre os limites da liberdade de expressão e a responsabilidade de todos os atores sociais na promoção de um ambiente de respeito e tolerância. O combate ao antissemitismo e a todas as formas de preconceito e discriminação é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. É imperativo que as autoridades, instituições de ensino e a sociedade civil atuem de forma conjunta e enérgica para coibir a propagação do ódio e garantir a segurança e a dignidade de todas as comunidades.

A educação e o diálogo são ferramentas essenciais para desconstruir preconceitos e promover a compreensão mútua. A história nos ensina os perigos do ódio e da intolerância, e é dever de todos garantir que tais erros não se repitam. O Brasil, um país conhecido por sua diversidade e convivência pacífica entre diferentes culturas e religiões, não pode permitir que o antissemitismo ganhe terreno e ameace os valores democráticos e humanitários que o fundamentam.

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