O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por meio de seu líder João Pedro Stédile, entregou neste domingo, 6 de julho, um documento contendo propostas do Conselho Popular durante a cúpula de chefes de Estado do BRICS, realizada no Rio de Janeiro. A informação, inicialmente divulgada pela Folha de S.Paulo, destaca a crescente influência de movimentos sociais em fóruns internacionais de grande relevância geopolítica.
O Conselho Popular e Suas Propostas Abrangentes
O Conselho Popular é uma iniciativa que reúne líderes de diversas entidades ideologicamente alinhadas ao MST. Seu principal objetivo é formular e apresentar propostas nas esferas política, econômica e social. Embora não seja uma estrutura permanente do movimento, o conselho é ativado em contextos específicos, como em eventos internacionais ou em momentos de diálogo com governos, demonstrando a capacidade do MST de se organizar e influenciar debates de alto nível.
O documento entregue na cúpula do BRICS, com aproximadamente 80 páginas, é fruto de intensas reuniões do Conselho Popular e de sete grupos de trabalho do Fórum Popular. As propostas abordam uma vasta gama de temas cruciais para o desenvolvimento sustentável e a justiça social, incluindo meio ambiente, mudanças climáticas, finanças, educação, cultura e soberania digital. Essa amplitude temática reflete a preocupação do movimento em apresentar soluções holísticas para os desafios contemporâneos.
O Contexto da Cúpula do BRICS e a Ausência de Líderes Chave
A cúpula do BRICS, que teve início no domingo e se encerra nesta segunda-feira, 7 de julho, tem o Brasil como país anfitrião, representado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O bloco, composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã, discute temas como a defesa do multilateralismo em contraponto às políticas protecionistas dos Estados Unidos e a criação de mecanismos para facilitar o comércio entre os países membros.
Apesar da importância do encontro, a repercussão da cúpula foi, em certa medida, afetada pela ausência de quatro chefes de Estado de países membros: Xi Jinping (China), Vladimir Putin (Rússia), Masoud Pezeshkian (Irã) e Abdel Fattah el-Sisi (Egito). Essas ausências, embora possam ter diferentes justificativas, diminuíram o impacto e a visibilidade do evento no cenário global.
O encontro ocorre em um momento de tensões geopolíticas significativas, especialmente entre Irã e Israel. Além disso, é a primeira cúpula do BRICS desde o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA, que, em fevereiro, ameaçou impor tarifas aos países do grupo caso abandonassem o uso do dólar em transações comerciais. Esse cenário complexo adiciona uma camada de urgência às discussões sobre autonomia econômica e cooperação entre os membros do bloco.
A Relevância das Propostas do MST no Cenário Global
A entrega das propostas do Conselho Popular pelo MST na cúpula do BRICS demonstra a capacidade de movimentos sociais de transcender fronteiras nacionais e influenciar agendas internacionais. Ao abordar temas como meio ambiente e soberania digital, o MST posiciona-se como um ator relevante na construção de um futuro mais equitativo e sustentável.
A participação de organizações da sociedade civil em eventos como a cúpula do BRICS é fundamental para garantir que as vozes e as demandas dos povos sejam ouvidas e consideradas nas decisões que moldam o cenário global. O documento do MST, com sua abrangência e profundidade, representa um esforço significativo para contribuir com soluções para os desafios enfrentados pela humanidade.
A iniciativa do MST reforça a ideia de que a governança global não deve ser restrita apenas a governos e grandes corporações, mas deve incluir ativamente a sociedade civil e os movimentos sociais. A busca por um multilateralismo mais inclusivo e justo passa necessariamente pela consideração das perspectivas e propostas de grupos que representam as bases da sociedade.
Em um mundo cada vez mais interconectado e complexo, a capacidade de dialogar e construir pontes entre diferentes atores é essencial. A ação do MST na cúpula do BRICS é um exemplo de como a sociedade civil pode e deve participar ativamente na construção de um futuro mais próspero e equitativo para todos.